EUA, Reino Unido e Nova Zelândia acusam China de ciberespionagem

por Inês Moreira Santos - RTP
Dado Ruvic - Reuters

Os Estados Unidos e o Reino Unido anunciaram, esta terça-feira, sanções contra uma empresa chinesa e dois indivíduos classificados como hackers por uma alegada operação de ciberespionagem que tinha como alvo milhões de pessoas, incluindo políticos, jornalistas, empresas e críticos de Governo de Pequim. Também o Governo da Nova Zelândia denunciou que piratas informáticos ligados à China lançaram uma operação patrocinada pelo Estado que visou o Parlamento neozelandês, em 2021, acusação rejeitada pelas autoridades chinesas.

Os EUA começaram por acusar sete cidadãos chineses que pertencem ao Grupo de Piratas APT31, associado ao Ministério da Segurança Estatal chinês, que recolhia desde há 14 anos informação sobre dissidentes e políticos e empresários norte-americanos. Um procurador do Distrito Leste de Niva Iorque, Breon Peace, denunciou esta terça-feira uma “vasta operação ilegal de pirataria informática” que visava obter “dados sensíveis de políticos eleitos e funcionários norte-americanos, jornalistas e académicos, informação valiosa de empresas norte-americanos e dissidentes políticos”.

Na sequência dessa denúncia, o Departamento de Justiça norte-americano explicou, num comunicado, que os sete hackers em causa eram acusados de conspiração por cometerem intromissões informáticas e fraudes por meios eletrónicos.

Segundo as autoridades, este grupo de piratas informáticos integrava um programa de ciberespionagem do Departamento de Segurança Estatal de Hubei, que depende do Ministério da Segurança do Estado do Governo chinês, e estava baseado na cidade de Wuhan. A operação de espionagem informática do grupo APT31 terá durado anos e visava jornalistas, políticos e empresas, entre outros. Os alvos terão sido sujeitos a sofisticadas campanhas de phishing, o que comprometeu alguns sistemas e redes de e-mail.

A vice-procuradora-geral Lisa Monaco afirmou à comunicação social norte-americana que a campanha do grupo envolveu mais de dez mil e-mails maliciosos a milhares de vítimas em vários continentes.

“Conforme alegado na acusação de hoje, esta prolífica operação de hacking global – apoiada pelo governo da China – teve como alvo jornalistas, responsáveis políticos e empresas para reprimir os críticos do regime chinês, comprometer instituições governamentais e roubar segredos comerciais”, explicou.

Entre os alvos dos ataques do APT31 está uma empresa de energia do Texas, um provedor de serviços gerenciados da Califórnia e vários especialistas aeroespaciais dos EUA no Alabama e no Tennessee.

Os Departamentos de Justiça e do Tesouro acusaram, então, a Wuhan Xiaoruizhi Science and Technology Company de ser um disfarce para o APT31 – um notório grupo de hackers com sede na China conhecido por anteriormente ter como alvo “uma ampla gama de altos funcionários do governo dos EUA e conselheiros”, incluindo funcionários da Casa Branca, membros do Congresso de ambos os partidos e vários departamentos do Governo norte-americano.
Reino Unido também aplica sanções
Horas depois, o Reino Unido também acusou a China de fazer ataques informáticos, em 2021, contra a Comissão Eleitoral britânica e vários parlamentares. O Governo britânico juntou-se aos EUA e anunciou a aplicação de sanções à China, tendo ainda convocado o embaixador chinês em Londres.

As autoridades britânicas esclareceram que os sancionados são responsáveis por um ataque informático no qual obteram acesso a informações sobre dezenas de milhões de eleitores do Reino Unido, bem como por espionagem cibernética contra políticos que têm falado abertamente sobre as ameaças da China.

Segundo o Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros, a invasão dos registos e dados eleitorais “não teve impacto nos processos eleitorais, não afetou os direitos ou o acesso ao processo democrático de qualquer indivíduo, nem afetou o registo eleitoral”.

Três políticos do Reino Unido admitiram, segundo o Guardian, que estavam entre os alvos. Eram membros da Aliança Interparlamentar sobre a China, um grupo internacional focado em reduzir a influência de Pequim no estrangeiro e em abordar preocupações em matéria de direitos humanos. Os alvos incluem o ex-líder do Partido Conservador, Iain Duncan Smith.

Já em agosto, a Comissão Eleitoral tinha identificado uma violação ao sistema que terá decorrido em outubro de 2022, embora tenha acrescentado que “atores hostis” conseguiram aceder aos servidores pela primeira vez em 2021.

Na altura, o órgão de fiscalização disse que os dados incluíam nomes e endereços de eleitores registados, mas que grande parte das informações já eram de domínio público.

As autoridades britânicas não identificaram a empresa nem os dois indivíduos sancionados, mas asseguraram que estavam envolvidos nas operações do grupo cibernético chinês APT 31.
Nova Zelândia acusa China de espionagem cibernética
O Governo da Nova Zelândia também denunciou, nas últimas horas, que piratas informáticos ligados à China lançaram uma operação patrocinada pelo Estado que visou o Parlamento neozelandês, em 2021.

A Embaixada da China na Nova Zelândia já reagiu e rejeitou "categoricamente estas acusações infundadas e irresponsáveis", manifestando "forte desagrado"
, de acordo com um comunicado da representação diplomática chinesa.

Pequim classificou também de "calúnia maliciosa" as acusações feitas por Londres. Estas acusações são "totalmente infundadas e calúnias maliciosas"
, afirmou a embaixada chinesa no Reino Unido.

Numa declaração à imprensa, a ministra responsável pelo Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo (GCSB) neozelandês, Judith Collins, disse que a “utilização de operações de espionagem cibernética para interferir com as instituições e os processos democráticos em qualquer parte do mundo é inaceitável”. Collins acrescentou ainda que a agência também estabeleceu ligações entre um ator patrocinado pelo Estado ligado à China e atividades cibernéticas maliciosas dirigidas a entidades parlamentares na Nova Zelândia.

"O Centro Nacional de Segurança Cibernética (NCSC) do GCSB concluiu uma avaliação técnica robusta após um comprometimento do Gabinete do Conselheiro Parlamentar e do Serviço Parlamentar em 2021, e atribuiu esta atividade a um grupo patrocinado pelo Estado da RPC [República Popular da China] conhecido como APT40".

"Felizmente, neste caso, o NCSC trabalhou com as organizações afetadas para conter a atividade e remover o ator" logo após terem acedido "à rede", garantiu.

Collins disse que Wellington não vai seguir Washington e Londres na adoção de sanções contra a China, já que o país não tem uma lei que permita tais penalidades, nem planos para introduzir legislação. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Winston Peters, confirmou que as preocupações da Nova Zelândia foram transmitidas ao embaixador chinês, Wang Xiaolong.

"A interferência estrangeira desta natureza é inaceitável e instámos a China a abster-se de tais atividades no futuro", afirmou Peters. "A Nova Zelândia vai continuar a pronunciar-se, de forma consistente e previsível, sempre que assistirmos a comportamentos preocupantes como este", declarou.
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